Vamos logo sem paredes!

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Baixe aqui o disco VAMOS LOGO SEM PAREDES.

Lançado em 2008 pela Gaia Discos.

Baixe aqui o clipping de imprensa VAMOS LOGO SEM PAREDES!.

 

 

Fotos de Tuca Vieira

Celso Sim , vamos logo sem paredes !

Por Luiz Tatit

O CD de Celso Sim é intenso, poético e contagiante. Autoral da primeira à última faixa, o disco impressiona pela personalidade do canto, pela escolha do repertório e pelo cuidado com as letras e os arranjos.

Dotado de um timbre de voz cristalino, Celso canta “dizendo” a letra, pronunciando claramente as consoantes e fazendo vibrar as vogais nos momentos de comoção. Dispõe de todos os recursos para se aventurar em canções que transitam em outras esferas, longe do consumo imediato, embora tenham tudo para agradar o ouvinte logo na primeira audição. Boa parte delas é da lavra do próprio artista, que chega a melodizar os versos de “Soidão”, de Oswald de Andrade, criando um refrão encantador a partir das onomatopéias de “Chove chuva choverando”.

Entre os compositores visitados por Celso Sim estão Cacá Machado, Guilherme Wisnik, Pepê Mata Machado, Vadim Nikitin, Fred Martins e Marcelo Diniz, representantes de uma geração que alia refinamento criador com “pop oculto”: composições que não se esgotam mesmo sendo altamente comunicativas. Mas a poética do artista ainda está impregnada de Pixinguinha, Paulinho da Viola e Adoniran Barbosa (de quem, aliás, apresenta uma originalíssima “Saudosa Maloca”), para não falarmos dos internacionais Robert Schumann e Heinrich Heine, cuja bela canção “Ich Grolle Nicht” aparece em versão brasileira de Arthur Nestrovski como “Pra Que Chorar”. Nunca uma canção alemã foi tratada com tanto “Carinhoso”.

A concepção musical do disco é outro caso à parte. Os arranjos de Paulo Lepetit revelam o que há de mais precioso em cada composição, com soluções sonoras modernas e, principalmente, adequadas às obras. Mas o time inteiro é composto de notáveis: Gigante Brazil, Webster Santos, Adriano Magoo e Marcelo Jeneci. O próprio Celso responde por um aspecto de grande expressão nos arranjos das faixas: os vocais.

O título do CD traz a positividade do nome de seu protagonista como meio de combate a qualquer obstáculo: Celso Sim, Vamos Logo Sem Paredes! Como se fosse uma pequena história em que a abertura e o brilho vencem o fechamento e a escuridão. Não é à toa que a primeira estrofe da canção “Violeta”, que abre o disco, já diz: “Agora é só luz acesa / Não adianta vir querendo se esconder / Agora é só porta aberta / Pelas frestas não vou mais viver”.

 

Celso Sim , vamos logo sem paredes !

Por Arthur Nestrovski

Na carteira de identidade o sobrenome é Simões. Mas faz muito tempo que ele vestiu a camisa do Sim e saiu por aí. Não é de levar canivete no cinto, mas carrega sempre um imaginário pandeiro na mão: está sempre pronto para cantar. Celso Sim é a música em estado de pessoa, e a música em estado de pessoa vive à procura de pessoas em estado de música, ainda bem para nós, que gostamos tanto de ouvir.

Nos shows de lançamento do disco, assim como nos muitos shows que tem feito ao longo dos anos – desde a parceria com Jorge Mautner em fins da década de 1980 e depois os anos de Teatro Oficina, passando recentemente pelo projeto Cidadança, com os meninos da periferia de São Paulo, para ficar só nesses três –, ele desfia o cancioneiro brasileiro de ponta a ponta, do samba à bossa-nova e à tropicália, da seresta ao rock e ao baião. Com ele, vamos sempre sem paredes.

Agora, neste seu terceiro disco solo, faz uma opção econômica, bem radical. A maior parte do repertório são canções que ele mesmo compôs, ou para as quais fez letra (parceria com Pepê Mata Machado), ou as duas coisas. Vale ressaltar: não é um cantor que compõe, nem um compositor que canta; é um compositor-cantor, tanto quanto um cantor-ator, inventor para si mesmo de um plano onde essas coisas não têm mais diferença.

O disco traz também canções de outros nomes da jovem vanguarda paulista (Guilherme Wisnik, Cacá Machado, Vadim Nikitin) e carioca (Fred Martins, Marcelo Diniz), lado a lado com dois clássicos: Adoniran Barbosa (1910-82) e Robert Schumann (1810-56). Dois clássicos recriados com uma liberdade impressionante, num registro capaz de amarrar as pontas da vanguarda e da jovem guarda, sob o espírito do poeta da Antropofagia, Oswald de Andrade.

É só no fim do caminho que se chega à “Saudosa Maloca” de Adoniran, projetada no presente do futuro; no meio, tem um Lied de Schumann e do poeta Heine, em versão brasileira – num arranjo impagável, do qual o versionista ainda não se recuperou.

Falando em arranjos, é preciso falar de Paulo Lepetit, que fez quase todos, e foi o principal responsável pela produção musical do disco. Chamado para organizar, veio logo para confundir as coisas, no sentido preciso do termo: fundir tudo com tudo. O elenco da bem nomeada Voodu Music inclui o “diretor de humor” Gigante Brazil (percussão e bateria), Marcelo Jeneci e Adriano Magoo (teclados e sanfonas), e Webster Santos (guitarra, cavaquinho, bandolim, violões), além do baixista, que só por inversão irônica se pode chamar Lepetit.

Na mão deles cada canção se revela como nunca, cada sugestão de melodia e poesia se veste e reveste na imprevista medida de sua imagem. Não são, na maioria, músicas de elaboração harmônica ou dramática, canções que se narram em tramas no tempo. São estados do mundo, fixados na lírica desse transamba original e atualíssimo. Tudo somado, o que se tem é um retrato compacto do baixo alto pop de invenção, decidida escolha do cantor-compositor que podia fazer o que quisesse.

O disco abre com uma canção de liberdade, um samba de luz acesa, pedindo passagem para suas alegrias, enriquecido por uma citação de Noel Rosa, que só agora, parece, vem a si. Dali em diante, dá-se todo um trajeto de terrores e ternuras, de angústias e argúcias, em contraponto amoroso. Melancolia e alegria nunca estão longe uma da outra; e a tristeza não tem fim, mas é sempre uma tristeza que balança.

É um disco feliz. É triste, mas é feliz; consegue e sabe ser feliz.

De um artista tão generoso como Celso Sim, a gente só pode mesmo agradecer o presente. Não existe troco possível – nem, afinal, necessário –, mas pode-se mandar de volta algumas frases, extraídas da obra do transfadista Fernando Pessoa, que parecer ter escrito uma epígrafe do disco por antecipação:

        Não quero fechos nas portas!
        Não quero fechaduras nos cofres!
        Não quero intervalos no mundo!
        Quero voar e cair de muito alto!

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